Um Dia Quadrado

Como chegamos a isso?!

Bom, nada de pânico. Afinal de contas, é um diazinho só...

Mas não é só um dia, né? Essa história já está se formando há algum tempo. Dá até para traçar o enredo.

Eu vejo assim:

Já faz um tempinho de Júpiter e Urano estão andando juntinhos. E lá vão eles, de braços dados, cheios de idealismo e otimismo, imaginando as maravilhas do novo e do progresso. Saturno foi ficando cada vez mais longe. Cada vez mais longe.

Até ficar oposto! E se opôs mesmo! Com tudo o que tinha direito: em Libra! Quem Júpiter e Urano pensam que são, propondo essas mudanças todas, essas evoluções todas e esquecendo dos menos favorecidos? Daqueles que não têm a saúde ou sagacidade para evoluir tão rapidamente assim em direção ao futuro? Quem quer ir rápido, precisa ir devagar primeiro, preparar o caminho.

Urano é um doido! Só pensa em inventar, multiplicar, derrubar limites...

Júpiter e Urano, confortáveis em Áries, dão gargalhadas. Caminhante, - assim diz a poesia que eu esqueci o nome - o caminho se faz caminhando! Tem sempre que ter um Urano na frente, abrindo o mato a facadas, pisando em gelo fino, navegando por mares desconhecidos - para aí, sim, fazer o mapa para os outros mais lentos, menos espertos e menos corajosos.

Só que desta vez, até os namoradinhos Marte e Vênus ficam do lado de Saturno. Marte em Libra diz que não é hora de ações tão ousadas quando está faltando estrutura para todo mundo poder caminhar, dar passos lentos - até mesmo colocar um pé depois do outro! Vênus em Virgem insiste que progredir e inovar é muito bonito, mas quanto maior a altura, maior a queda. Isso está com cara de golpe - chegar primeiro e impor o seu valor, a sua posse - depois ninguém mais vai poder aproveitar daquilo que deveria servir a todos.

Ninguém se mexe! Ainda tem um asteroide de 3 metros de diâmetro fora do lugar!

Plutão, com seu capacete da invisibilidade aparece no lugar onde ninguém o queria, mas todo mundo sabia que ele iria estar em algum momento: no meio desse babado - mantendo a sua distância respeitosa, mas mesmo assim, assustadora. Ele ficou justo na quadratura. Silencioso em Capricórnio, ele sabe que é tudo uma questão de tempo: quem dá o passo maior do que as pernas vai se esborrachar, e com a mesma certeza, quem hesita demais perde as oportunidades únicas que passam pela sua porta. Sem equilíbrio, sem auto-controle e sem observação o ser humano vai se perdendo neste cabo-de-guerra entre histeria e pânico, ousadia e medo, vaidade e timidez. Desesperado para puxar a corda para o seu lado, ninguém olha o terreno onde pisa - muito menos os passos a frente.

A corda da oposição continua bastante esticada, hora pendendo para um lado, hora para o outro. Do lado oposto chega a Lua em Gêmeos, jovem e inocente. Ela pede para mudar a brincadeira. Ao invés do cabo de guerra, que tal pular corda? Aprender o milésimo de segundo certo para entrar, colocar o pé no chão e tirar. Saltar e abaixar. Aprender o ritmo das coisas e fazer uso dele.

O Tempo não é inimigo de ninguém. É só não tentar brigar com ele.

Plutão, com o mesmo tamanho dela, mas com um poder e distância muito maiores, manda a tola Lua calar-se! Sem perdas, sem dor, como pode o ser humano aprender a viver?

"Com um pouco de ajuda", diria a Lua. Mas Netuno passou lindo pela constelação de Aquário, jogando um pouco de cheiro de mar no rosto de prata dela. Esquecida da briga, da guerra e da brincadeira ela segue com pressa seu caminho, rodopiando feito peão, valsando feito criança esquecida da gente aqui no planeta azul, essa maluquinha...

As coisas que Plutão apronta mudam a gente num segundinho. Só que este segundinho muda todos os minutos, horas, dias e anos que virão. Isso é bom ou é ruim? Que diferença faz? Existem coisas que são reais demais para se enquadrarem nesses conceitos. Bom, mau, verdade e mentira são coisas que acabam mudando como as faces da Lua. Plutão tem uma cara só - e é por isso que essa cara assusta tanto...