sexta-feira, 10 de abril de 2009

A Última Ceia e os signos

Esta versão da Última Ceia é de um dos alunos de Da Vinci, já que a versão original é bem menos nítida.

Muito antes do livro de Dan Brown ser lançado, muitos astrólogos já haviam notado semelhanças entre os signos do zodíaco e a posição dos discípulos de Jesus no quadro “A Última Ceia” de Leonardo DaVinci. O fato é que DaVinci não dava mesmo ponto sem nó. Se ele estava mesmo escondendo algum segredo importantíssimo para a humanidade ou simplesmente deixando sua mente prodigiosa fluir, nunca saberemos.

Jesus não é retratado como representante de nenhum signo. Ele está no centro da mesa separando os signos da primeira metade do círculo zodiacal (os signos mais pessoais) e a segunda (os signos mais sociais).


São Simão de Francesco Moratti

Áries: Simão Zelote - O primeiro da mesa, da esquerda para a direita, é Simão. Ele representaria o signo de Áries por ter as duas mãos apontando para o “comandante” Jesus. Sua expressão diz algo como “ouçamos o Mestre”, “lá está a autoridade”. Também pode ser interpretado como um gesto de liderança, mostrando o caminho a seguir. Áries, na medicina, rege a cabeça. Simão é retratado sem cabelos, dando destaque à cabeça. Existem referências em Bíblias anotadas de Simão ser chamado de Zelota. Esse era o nome dado a membros do partido judeu que se opunham à ocupação de Roma. É possível que Simão fosse um ativista político – o que tem mais a ver com o espírito agressivo de Áries.

Detalhe de uma obra atribuída a Caravaggio


Simão é sempre retratado com um serrote, pois era carpinteiro. A tradição católica diz que Simão morreu sendo cortado ao meio. Uns historiadores dizem que foi crucificado e outros dizem que foi queimado vivo. A teoria da crucificação é a mais provável.

Touro: Judas Tadeu – Em contrapartida a Simão está Judas Tadeu que tem as palmas das mãos voltadas para si mesmo. Isso mostraria a atitude receptiva de Touro, pronto para absorver idéias e conceitos, mas também pode demonstrar sua possessividade.

Judas era um discípulo de origem tradicional judaica, o que mostra o caráter mais rígido de Touro. São Judas é considerado o santo das causas perdidas e desesperadas. Nada é impossível quando se tem a persistência de Touro.


São Judas de Antony Van Dyck


Judas Tadeu provavelmente morreu crucificado tal qual Simão, pois os dois pregaram o evangelho na Pérsia e Armênia e supõe-se que tiveram o mesmo fim. Por também ser carpinteiro é representado carregando um machado. Segundo a tradição católica ele teria sido decapitado.


A Inspiração de São Mateus, de Caravaggio


Gêmeos: Mateus – Junto a estes dois está Mateus, cujo nome verdadeiro era Levi. Ele tem as duas mãos viradas para o centro - Jesus - e o rosto virado para os dois companheiros que conversam (ou discutem). A tendência geminiana está em ter a atenção dividida. Seus braços vão para um lado enquanto seu rosto está virado para outro. Fora esta posição, Mateus é o autor do evangelho mais rico em detalhes.

Nenhum geminiano vai contar uma história sem das todos as informações relevantes. Hoje em dia qualquer detalhe sobre a vida de Cristo é importante, mas na época todos sabiam que a maioria dos discípulos estava escrevendo seu evangelho. Para quê detalhar tanto uma história que estava sendo contada várias vezes? Mateus pode não ter sido geminiano, mas escreveu seu evangelho de maneira geminiana.


Mateus Evangelista, de Rembrandt


Outro motivo para Mateus ter escrito o evangelho foi ver o fim de sua vida mais próximo. Ele era um dos poucos discípulos que sabia escrever, por isso suas anotações são as mais confiáveis - em se tratando da própria testemunha escrever o relato dos fatos, coisa rara na antiguidade. Alguns julgam que Mateus e Levi seriam pessoas diferentes já que o estilo de escrita possui algumas discrepâncias com o estilo da época. Não é impossível que Mateus tenha mudado seu estilo assim como seu nome, como tantos outros discípulos. Essa "dupla identidade" só aumenta seu estilo geminiano. Morreu na Etiópia, já em idade avançada - coisa que não impediu seu martírio.


Detalhe de "O Martírio de São Mateus" de Caravaggio


Câncer: Felipe – Totalmente virado para Jesus, com um olhar e gesto suplicante está Felipe, o representante de Câncer. No livro de Atos dos Apóstolos, no capítulo 8, descobre-se que Felipe foi pregar, como muitos apóstolos, em um lugar de excluídos – Samaria. Cuidar dos excluídos também é algo muito canceriano.

Durante a última ceia Jesus disse que os discípulos não poderiam seguí-lo para onde ele estava indo. Ele estava voltando para seu Pai. Tomé está preocupado em seguir Jesus de qualquer maneira. Felipe é o que diz, suplicante: “Mostra-nos o Pai e isto basta!” Jesus pergunta a Felipe como é que ele pode não conhecê-lo depois de tanto tempo. Jesus e o Pai são o mesmo. É através da pergunta de Felipe que temos noção do que é um vínculo típico de Câncer.

Imagem de São Felipe na Catedral de São Isaac, na Rússia

Leão: Tiago Menor – Logo após ele vemos Tiago, o mais novo, chamado Tiago Menor e Tiago, filho de Alfeu. Pouco se sabe dele, mas alguns afirmam que era parente de Jesus (talvez primo). Judas teve que apontar quem era Jesus entre os discípulos porque Tiago Menor parecia-se muito com ele.

Nada mais leonino do que ser confundido com o Mestre. Ele tem os braços abertos, deixando bem à vista o coração – parte do corpo regida por Leão. Quando ficou mais velho Tiago Menor foi chamado de Tiago, o Justo.

Santiago Menor de Georges de La Tur

Ele era conhecido por sua grande piedade e foi o primeiro bispo de Jerusalém. Tiago participou ativamente do Concílio da Igreja em Jerusalém, depois da partida de Pedro. Foi líder da comunidade cristã de Jerusalém por dezoito anos. Morreu trucidado após ter provocado a fúria do sacerdote Anás II, justamente por exercer uma liderança verdadeira, bastante típica de Leão.

Santiago Levado ao Martírio, de Giovanni Battista Piazzetta

Algumas das tradições que ele começou estão em voga até hoje na Igreja Ortodoxa. Como um jovem na última ceia de Jesus, ele parece um tanto orgulhoso, pedindo atenção para si mesmo. Com o tempo ele aprendeu a ser humilde e sua majestade leonina pôde se manifestar de forma mais verdadeira.

São Tomé, também de Georges de La Tur

Virgem: Tomé – O rosto de Tomé aparece ao seu lado, mais perto de Jesus. Por mais que Tomé tenha a humildade virginiana que contrasta com a vontade de aparecer do “leonino” Tiago, o espírito crítico de Virgem está presente no dedo em riste. Isto deve ser uma referência à pergunta de Tomé pelo caminho que Jesus vai tomar e que ele quer seguir.

Jesus diz que ele mesmo é o caminho, mas a atitude virginiana de Tomé deve estar perguntando por uma estrada de verdade. Todo mundo se lembra do que Tomé disse mais tarde ao ver Jesus ressuscitado? Ele duvidou e Jesus lhe mostrou as mãos feridas.

A Incredulidade de São Tomé, de Caravaggio

Só mesmo um signo de terra iria querer “ver para crer”. Por mais que Tomé seja um tanto literal, este espírito “virginiano” fez dele um evangelista bastante prático. Apesar de seu evangelho não fazer parte da Bíblia, os que têm contato com seus escritos percebem sua postura absolutamente imparcial. Tomé era tido como gnóstico (estudioso que se limita aos fatos conhecidos e mais nada) e ascético (pessoa que se despe de aspectos corpóreos e sensíveis – pessoa de um purismo exagerado). A palavra ascético gerou outra: asséptico (sem germes ou impurezas). Esta é uma característica extremamente virginiana.

São Tomé foi um apóstolo muito ativo. Ele pode ter sido o fundador de uma antiga denominação Cristã na Índia chamada Martoma. Segundo esta tradição, ele teria morrido perfurado por lanças de quatro soldados.

João Evangelista de Jacopo Pontormo

Libra: João – Do outro lado de Jesus vemos João em uma atitude libriana. Ele mantém as mãos juntas, o corpo para um lado e a cabeça para o outro. Uma das grandes qualidades de Libra é a imparcialidade – mas sem a distância de Virgem. Só que poucas pessoas conhecem o outro lado de Libra assim como poucas conhecem o outro lado de João, apóstolo do amor. Quando a Bíblia diz que Jesus mudava o nome dos discípulos, o que Jesus estava fazendo era dar um apelido a eles. Jesus apelidou João de “João Tempestade”. Ele e seu irmão Tiago tinham um gênio difícil.

Com o tempo João tornou-se um homem extremamente gentil e, como evangelista, não colocou seu próprio nome em seu evangelho. Ele simplesmente refere-se a si mesmo como “o discípulo a quem Jesus amava”. De todos os evangelhos, o de João é o mais “artístico”. Sabe-se que era calado, imaginativo e muito próximo de Jesus. Foi ele quem cuidou de Maria, mãe de Jesus, até morte dela. Esta cena da Última Ceia mostra o momento em que Pedro pede a João que pergunte a Jesus quem é o traidor. Pedro preferia que João fizesse a pergunta difícil. É sempre bom ter um libriano por perto para saber falar com jeitinho. Quando João fez a pergunta a Jesus, perguntou encostado em seu peito, falando baixinho, pois não sabia se Jesus queria que a informação vazasse naquele momento - consideração muito libriana.

João morreu de morte natural, em Éfeso, apesar de passar maus bocados em Patmos, onde escreveu o Apocalipse e ter sobrevivido miraculosamente a vários martírios.

Escorpião: Judas Iscariotes – Pobre signo de Escorpião. Na verdade, pobre Judas. A traição foi um mal necessário. Isso não tira Judas da condição de traidor, mas a verdade é que a traição estava na profecia. João descreve em seu evangelho o que aconteceu imediatamente após a cena retratada no quadro. João pergunta a Jesus quem é o traidor e Jesus discretamente diz que é aquele a quem ele der o pão com molho. Ele passou o pão umedecido a Judas e disse: “Faça depressa o que você já está fazendo”.

A prisão de Jesus, por Caravaggio

Segundo João, ninguém na mesa compreendeu exatamente o que tinha acontecido. Como era Judas quem guardava o dinheiro, a maioria pensou que Jesus o tinha mandado comprar alguma coisa. No evangelho de João, capítulo 13, versículo 30 está escrito: “Tomando, então, o pedaço de pão, Judas saiu imediatamente. Era noite.” O sensível João notou que Judas saiu sozinho à noite – as trevas estavam tomando conta dele. Infelizmente, Judas Iscariotes não é uma boa referência para o signo de Escorpião, mas não há como ignorar as semelhanças. Judas saiu enquanto todos ainda tentavam descobrir quem era o traidor. A “camuflagem” é um talento escorpiano. Ele cuidava da bolsa de dinheiro de um grupo de homens que desistiram de suas posses. Escorpião é o signo que representa todos os males necessários e tudo o que faz parte de qualquer ser humano. No quadro de DaVinci o rosto de Judas é o menos visível. Ele contempla Pedro enquanto ele pede a João: “Pergunte a Jesus quem é o traidor.”

Judas traiu Jesus com um beijo. As transformações escorpianas são dramáticas mesmo. Desde então todos os beijos ficaram maculados. Cometeu suicídio após ver o resultado de seu ato.

A Crucificação de Pedro, por Caravaggio

Sagitário: Pedro – Este discípulo também era chamado Simão e representa Sagitário no quadro. Pedro foi o nome que Jesus lhe deu, significando “pedra” pois ele seria a pedra sobre a qual Jesus construiria sua Igreja. Só que Pedro tinha também seu lado inconstante. Aliás, a Bíblia é um livro de heróis improváveis. Simão Pedro era só um pescador, trabalhando com André e João, quando Jesus pediu seu barco emprestado. O resto é história. No quadro, toda sua postura parece se projetar (qualidade sagitariana – jogar-se, ir para frente) para Jesus. Quando percebeu quem era Jesus, Pedro pediu que o Mestre não se aproximasse dele, pois ele era um pecador. Mais tarde, cheio de intimidade, Pedro repreendeu Jesus em algumas de suas decisões. Consequentemente, Jesus lhe dava as broncas que ele merecia.

A negação de Pedro, por Caravaggio

Na última ceia Jesus lhe avisou que ele o negaria três vezes antes do galo cantar. Este foi um pequeno chamado à humildade depois que ele bateu no peito dizendo que nunca, jamais, em tempo algum, nem que a vaca tossisse, ele trairia seu Mestre.

Pedro fez outros atos exagerados em sua vida. Depois que terminou sua primeira pregação, após a ressurreição de Jesus, três mil pessoas se converteram. Suas viagens foram tão numerosas quanto as de Paulo. Pedro morreu crucificado durante o reinado de Nero. Ele pediu para ser crucificado de cabeça para baixo, pois não merecia ser comparado a Jesus em sua morte. Segundo o próprio Jesus, Pedro tem consigo as chaves do Paraíso.

Apóstolo Santo André, por Francisco de Zubarán

Capricórnio: André – Ao lado de Pedro vemos André com um gesto que pede calma, limites, típico de Capricórnio. Ele era irmão de Pedro mas fez suas viagens com Bartolomeu. Como André não é um nome judaico, este poderia ser um apelido. André significa “másculo”. Dizem que era um pescador bastante parrudo.

Em suas viagens, ele e Bartolomeu foram para terras difíceis, onde hoje está a Rússia e o Oriente Médio. André fez um belo ministério e morreu crucificado em duas toras cruzadas, formando um “X”. A cruz em forma de X é conhecida como a cruz de Santo André. Sua constituição forte, suas duras viagens e sua morte difícil remetem à dureza que Capricórnio consegue suportar.

O Martírio de Santo André, por Bartolomeu Esteban Murillo

Aquário: Tiago Maior – Suas mãos parecem tentar juntar Pedro e André. Dois irmãos com posturas tão diferentes. Tiago, irmão de João, também levou o apelido de “Tempestade” dado por Jesus. Tiago e João seguiram Jesus de uma maneira radical. Largaram as redes que consertavam no chão e foram embora com Jesus! Um jeito bem aquariano. Então, o que faria de Tiago Maior o representante de Aquário e não João?

Todos os Apóstolos tiveram vidas sacrificadas e a maioria morreu tragicamente. Tiago, no entanto, foi o primeiro a morrer.

Tiago Maior, de Alonso Cano

Herodes experimentou a reação dos judeus ao mandar matar um dos apóstolos. O primeiro mártir foi justamente o irmão de João. Nada mais aquariano do que mostrar o rompimento dos limites. A morte de Tiago acabou fortalecendo a fé do povo. Todos perceberam a partir daquele momento o preço que poderiam pagar para expressar sua fé. A partir da morte da morte de Tiago somente os que não tinham medo da morte continuaram a ser cristãos.

O Martírio de São Bartolomeu, de Giovanni Battista Tiepolo

Peixes: Bartolomeu – Até hoje não se sabe se Bartolomeu era seu sobrenome ou um apelido. Seu outro nome é Natanael. Bartolomeu não usou um nome ou outro, mas era conhecido pelos dois nomes. O que se sabe sobre ele são conjecturas. Além de ser companheiro de viagens de André, todo o resto são especulações. Sabe-se que ele foi martirizado, mas existem várias versões de quando e como. A mais comum é que tenha sido esfolado vivo em Albanópolis. Tudo sobre Bartolomeu é muito nebuloso. Só isso já bastaria para ele ser o representante de Peixes.

O Martírio de São Bartolomeu, por Jusepe de Ribera

Quando Felipe chamou Natanel para conhecer Jesus, Natanael respondeu cinicamente: “Pode vir algo bom de Nazaré?”. Porém ele aceitou Jesus como Mestre logo nas primeiras palavras que trocaram. Jesus disse:“Eu te vi debaixo da figueira antes de Felipe te chamar”. Isso bastou.

No quadro pode-se observar sua postura receptiva e a expressão de surpresa enquanto todos os outros apóstolos estão agitados, tomando uma postura ou outra. Bartolomeu apenas espera e tenta entender. Foi o próprio Jesus que deu a informação mais precisa sobre Natanael Bartolomeu assim que pôs os olhos nele: “Neste israelita não há fraude”.

Achei blogs que, confiáveis ou não, trazem informações sobre os apóstolos.

http://www.sedentario.org/colunas/teoria-da-conspiracao/que-fim-levaram-os-apostolos-10262

http://con-versas.blogspot.com/2008/10/histria-da-igreja-4.html


Por que está tão difícil distinguir alguma coisa nesse quadro?

A Última Ceia Original, de Da Vinci

A Última Ceia, de DaVinci nunca foi possuída por um colecionador particular ou museu. Ela está exposta no refeitório do Convento de Santa Maria delle Grazie. Assim como Michelângelo fez na Capela Sistina, Leonardo pintou a cena diretamente na parede. A pintura em argamassa é uma técnica muito complicada, mas especialmente durável. Ela consiste em aplicar os pigmentos no reboco ainda úmido para fazer parte da massa da parede ao invés de ser simplesmente uma pintura aplicada sobre ela. O problema era que, se o tempo esquentasse, o vento aumentasse ou o trabalho atrasasse o reboco secava! Uma vez que a argamassa seca, ela não recebe mais tinta nenhuma e a única solução é quebrar a parede toda e começar tudo de novo! Leonardo fez uma mistura especial com os pigmentos. Talvez as condições da capela fossem muito diferentes das que ele tinha em seu ateliê ou ele só queria mesmo se livrar do trabalho o mais rápido possível. As descolorações que vemos começaram a aparecer antes mesmo da obra estar acabada. Como é que Leonardo DaVinci deixou isso acontecer é mais um mistério em sua obra.